Google+ O Livro dos Deuses Nórdicos: Guerreiras de Odin: As Valquírias na Mitologia Viking

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21 de agosto de 2013

Guerreiras de Odin: As Valquírias na Mitologia Viking

“[...] a figura da valquíria: ela é matadora de homens – em sua qualidade de mensageira de Odin, é bem verdade, e de executante de suas crenças – mas é, ao mesmo tempo, uma sedutora: não há quem resista a seus encantos propriamente mágicos” (Régis Boyer, Mulheres viris, 1997b).
No resgate e na popularização da mitologia nórdica, poucas narrativas fascinam tanto como o mito das valquírias (valkyrjor, singular – valkyria). Celebradas pela música wagneriana, pela literatura, pelo cinema e até mesmo pelas histórias em quadrinhos, as guerreiras de Odin ocupam um lugar especial em nosso imaginário  sobre a cultura dos vikings . Mas até que ponto essa nossa contemporânea, construída pela arte oitocentista , corresponde ao que os escandinavos imaginam originalmente? Qual o papel das valquírias para a religião e a sociedade nórdica?


Nossa principal hipótese é a de que o mito das valquírias esteve vinculado a certos fatores sociais relacionados com a aristocracia e a realeza, com finalidades de legitimação dos poderes políticos e sociais dessas mesmas classes. A metodologia adotada são as teorizações do historiador francês Régis Boyer. Influenciado pelo mitólogo Georges Dumézil, Boyer aplica a teoria da tripartição social dos povos de origem indo-européia especificamente para os estudos da religião escandinava. A concepção cósmica de mundo, os rituais e as divindades seriam concebidos em termos de ordem social. Para Régis Boyer, os mitos e outros cultos nórdicos foram construídos gradativamente por acréscimos sucessivos. Essa concepção diacrônica também será adotada, bem como pesquisas demonstram as influências culturais estrangeiras no processo de formação religiosa dos vikings (DUBOIS, 1999; DAVIDSON, 1988).

A sociedade nórdica estava originalmente dividida em duas grandes categorias: a dos homens livres (karls) e a dos escravos (thrall). A maior parte da população livre era constituída de fazendeiros (bóndi, - plural- boendr), que também se dedicava ao comercio, à navegação e à guerra. A aristocracia hereditária (jarl) constituía o pequeno grupo que mantinha seus privilégios nas comunidades, especialmente nas assembleias gerais (things) e nos vínculos com a corte real (hird). Toda a politica e o suporte militar eram definidos pelo chefe local (lendrmadr, membro da aristocracia), mas a autoridade absoluta era centrada no rei (konungr), que também exercia o papel de principal sacerdote publico. A maioria da população livre era adepta dos cultos ao deus rórr e aos vanes (entidades relacionadas à fertilidade, especialmente Freyr e Freyja).A aristocracia e a realeza perpetuavam especialmente os rituais ao deus principal do panteão germano-escandinavo, Odin (“fúria”), ao qual o mito das valquírias estava intimamente relacionado.


A palavra original do nórdico antigo, valkyrja, significa “ a que escolhe os mortos” (BOYER, 1997ª, p.164). Entidades sobrenaturais relacionadas diretamente com marcialidade, e sua associação com o destino dos guerreiros mortos na batalha remetem a uma tradição mítica muito anterior aos vikings, vinculada aos antigos germanos. Na literatura anglo-saxã do século VIII surge o termo warlcyrge (“a que escolhe os mortos”. Hilda Davidsons e Régis Boyer apontam três e Brian Branstson quatro fases  nas imagens das valquírias, mas todas possuindo aspectos relacionado à batalhas, ou seja, de entidades femininas ligadas a conflitos.


Adaptação do livro: Deuses, Monstros, Heróis (Jhonni Langer)


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