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12 de setembro de 2013

Valquírias, Conclusão: o significado do mito

Até o presente momento pudemos verificar as variações do mito ao longo da história, elaborando o seguinte esquema:

Evolução morfológica do mito das valquírias

Entidades sanguinárias incentivadoras de carnificinas (Antiguidade) -> Selecionadoras dos mortos nas batalhas (Antiguidade Tardia) -> Selecionadoras dos mortos e receptoras/serviçais no Valhöll (período das migrações/início da Era Viking) -> Guerreiras de Odin, donzelas-cisnes, esposas/amantes, filhas de reis (final da Era Viking).

Essa metamorfose do mito é explicável, no caso da Era Viking, pelo trabalho dos poetas e das poetisas, que acabaram dignificando muitos aspectos das narrativas orais. A existência de elementos de sujeição sexual nas imagens mitológicas de escultura, assim como a transformação de entidades monstruosas em figuras da realeza, deve-se diretamente à classe dos Jarls. Assim, podemos encontrar o significado do mito em dois níveis: o ideal masculino e a ideologia da realeza.



O poder dos homens na arte da guerra- Um dos ideais da classe guerreira era sujeitar todas as mulheres da sua comunidade ao seu controle direto. Somente os homens poderiam efetivamente ter o acesso ao espeço da guerra, aos triunfos militares e à glória da imortalidade nas batalhas, alcançando a recompensa futura. Mulheres guerreiras representavam um obstáculo ao seu poder social, bem como ao seu prestigio perante as comunidades em que viviam. As imagens esculpidas nas estelas representam o maior testemunho na busca de um controle sexista da arte da guerra, assim como as descrições dos casamentos das valquírias e a sua consequente perda de elementos marciais.

A conexão com a nobreza dos heróis e dos reis- E ideologia da realeza estruturava-se nos cultos odínicos. Nas fontes literárias, as valquírias nunca são representadas como simples camponesas, filhas de pescadores, filhas de comerciantes e muito menos escravas. Na maioria das fontes, elas são apresentam-se como filhas de reis. Com isso, o mito legitima o poder das outras divisões sociais. Colabora com a criação de vínculos odinistas com os guerreiros vivos, a exaltar os feitos gloriosos dos heróis mortos, a estabelecer uma conexão sobrenatural com o poder da classe guerreira e a realeza, a minoria dominante. Em uma sociedade em que a religião não era centralizada, sem organização de uma instituição central, sem hierarquias sacerdotais e com muitas variações regionais de cultos, o padrão mítico em comum (panteões divinos e cosmologias de origem germânica) foi utilizado pelas classes aristocráticas para fins políticos. O homem escandinavo comum, fosse um camponês ou um comerciante, estava muito mais interessado no culto aos deuses vanes (proporcionadores de fertilidade) e nas possibilidades de aplicações religiosas em seu cotidiano: “A religião de Tor e dos Vanirs, onde a ênfase é a continuidade da família e da comunidade, em vez de qualquer imortalidade pessoal no outro mundo” (DAVIDSON, 2004, p.183).




Com isso, tanto as imagens de valquírias gravadas em estelas quanto as narrativas orais destas entidades proferidas em festivais públicos, cortes palacianas ou por poetas comunitários enfatizavam a supremacia dos cultos a Odin e em consequência atendiam aos anseios de poder dos guerreiros e dos reis.

Adaptação do livro: Deuses, Monstros, Heróis (Jhonni Langer)

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