Até o presente momento pudemos verificar as variações do mito ao longo da história, elaborando o seguinte esquema:
Evolução morfológica do mito das valquírias
Entidades sanguinárias incentivadoras de carnificinas (Antiguidade) -> Selecionadoras dos mortos nas batalhas (Antiguidade Tardia) -> Selecionadoras dos mortos e receptoras/serviçais no Valhöll (período das migrações/início da Era Viking) -> Guerreiras de Odin, donzelas-cisnes, esposas/amantes, filhas de reis (final da Era Viking).
Evolução morfológica do mito das valquírias
Entidades sanguinárias incentivadoras de carnificinas (Antiguidade) -> Selecionadoras dos mortos nas batalhas (Antiguidade Tardia) -> Selecionadoras dos mortos e receptoras/serviçais no Valhöll (período das migrações/início da Era Viking) -> Guerreiras de Odin, donzelas-cisnes, esposas/amantes, filhas de reis (final da Era Viking).
Essa metamorfose do mito é explicável, no caso da Era Viking, pelo trabalho dos poetas e das poetisas, que acabaram dignificando muitos aspectos das narrativas orais. A existência de elementos de sujeição sexual nas imagens mitológicas de escultura, assim como a transformação de entidades monstruosas em figuras da realeza, deve-se diretamente à classe dos Jarls. Assim, podemos encontrar o significado do mito em dois níveis: o ideal masculino e a ideologia da realeza.
O poder dos homens na arte da guerra- Um dos ideais da classe guerreira era sujeitar todas as mulheres da sua comunidade ao seu controle direto. Somente os homens poderiam efetivamente ter o acesso ao espeço da guerra, aos triunfos militares e à glória da imortalidade nas batalhas, alcançando a recompensa futura. Mulheres guerreiras representavam um obstáculo ao seu poder social, bem como ao seu prestigio perante as comunidades em que viviam. As imagens esculpidas nas estelas representam o maior testemunho na busca de um controle sexista da arte da guerra, assim como as descrições dos casamentos das valquírias e a sua consequente perda de elementos marciais.
A conexão com a nobreza dos heróis e dos reis- E ideologia da realeza estruturava-se nos cultos odínicos. Nas fontes literárias, as valquírias nunca são representadas como simples camponesas, filhas de pescadores, filhas de comerciantes e muito menos escravas. Na maioria das fontes, elas são apresentam-se como filhas de reis. Com isso, o mito legitima o poder das outras divisões sociais. Colabora com a criação de vínculos odinistas com os guerreiros vivos, a exaltar os feitos gloriosos dos heróis mortos, a estabelecer uma conexão sobrenatural com o poder da classe guerreira e a realeza, a minoria dominante. Em uma sociedade em que a religião não era centralizada, sem organização de uma instituição central, sem hierarquias sacerdotais e com muitas variações regionais de cultos, o padrão mítico em comum (panteões divinos e cosmologias de origem germânica) foi utilizado pelas classes aristocráticas para fins políticos. O homem escandinavo comum, fosse um camponês ou um comerciante, estava muito mais interessado no culto aos deuses vanes (proporcionadores de fertilidade) e nas possibilidades de aplicações religiosas em seu cotidiano: “A religião de Tor e dos Vanirs, onde a ênfase é a continuidade da família e da comunidade, em vez de qualquer imortalidade pessoal no outro mundo” (DAVIDSON, 2004, p.183).
Adaptação do livro: Deuses, Monstros, Heróis (Jhonni Langer)
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